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Cosméticos naturais conquistam cada vez mais adeptos

A moda da beleza consciente, onde a elegância está em provocar o mínimo impacto ambiental, atinge em cheio a indústria de cosméticos, com o desenvolvimento de produtos com menos ativos poluentes.

Garimpeiros de novas tendências seguem dando o recado: quanto menor o impacto ambiental, mais elegante. A moda é poluir menos, usar menos produtos artificiais e apostar nas produções locais. Esse movimento Green Life já encontrou eco há algum tempo no consumo de alimentos, com a preferência pelos orgânicos, pelas feiras de bairro direto com produtor e produtos levados para casa em eco bags em vez de embalagens plásticas.

A indústria da beleza também já percebeu que esse movimento é necessário e sem volta. De escova de dente biodegradável a desodorante sem alumínio e parabeno, ou batons com pigmentos naturais e xampus em barra, é possível tratar, limpar e embelezar a pele e o cabelo prejudicando menos o mundo e incentivando a economia local.

Santa Catarina particularmente se destaca nessa onda, com algumas das principais marcas de cosméticos com propósito feitas por aqui. É o caso da Simple Organic, atualmente o principal nome em cosméticos orgânicos, veganos, naturais, cruelty-free e sem gênero do Brasil.

“Foram três anos de pesquisa e planejamento. Desde que virei mãe, comecei a me incomodar com o comportamento de consumo excessivo na moda. Questionei o que deixaria de legado para minha filha. Como já transitava nesse universo da beleza e da moda, percebi que era um nicho de mercado não explorado no Brasil”, conta Patrícia Lima, editora de moda e fundadora da marca.

O pioneirismo da Simple Organic no São Paulo Fashion Week

A Simple Organic foi pioneira no país ao fazer a estreia na São Paulo Fashion Week e levar a bandeira da beleza natural e consumo consciente na passarela do maior evento de moda brasileiro e o mais importante da América Latina. Depois de três anos, se prepara para abraçar o mercado internacional. De Joinville, a Organela também é marca catarinense, sempre listada entre as mais indicadas principalmente para quem sofre de alergias e não abre mão de maquiagem.

“A proposta surgiu da minha necessidade e busca por produtos sem químicas pesadas que diminuíssem reações alérgicas na pele. Nesses quatro anos percebemos a preocupação do público feminino com a saúde e bem-estar. Produtos estão hoje mais acessíveis e com mais opções no mercado e isso ajuda a alcançar mais pessoas”, diz a idealizadora, Fernanda Santa Cruz.

Cotirô vê crescimento astronômico dos produtos veganos para cabelos

Lojistas também começaram a levantar essa bandeira, um tanto em razão da demanda do mercado. “Consumidores pediram e o mercado mostrou. Começamos primeiro com xampu e condicionador, há três anos, e logo percebemos a enorme demanda também por maquiagem com essa pegada natural”, diz Alessandra Claudino do Nascimento Vieira, gerente comercial da Cotirô, uma das maiores redes de venda de cosméticos da Grande Florianópolis.

Para se ter uma ideia, uma das marcas especializadas em produtos veganos para cabelo à venda na rede teve, nos últimos três anos, um crescimento de 1.321%.

Um caminho de cura na beleza natural

A pele é o maior órgão do corpo humano, ou seja, tudo que se aplica nela é absorvido pelo organismo. Nesse sentido, a cosmética natural é um movimento que defende a beleza, mas não a artificial e sem propósito.

“Cosméticos foram uma cura na minha vida. Já era maquiadora desde o ensino médio, um ofício que me ajudou na autoafirmação e a superar uma depressão. Nesse caminho, descobri yoga, práticas naturais e descobri que existia uma alternativa mais natural para tudo”, desabafa a eco-maquiadora Dy Belmonte, 24 anos, que ilustra a capa da Inspira.

Depois de estudar e pesquisar a fundo esse universo, de atuar no primeiro salão ecológico da Capital – Caule Ecosalão — ela se dedica a consultorias e oficinas.

Em março, Dy será embaixadora da primeira edição em Florianópolis do Slow Market Beauty, evento já realizado em São Paulo voltado ao mercado de cosméticos naturais, orgânicos, veganos e cruelty free e salões e profissionais conscientes do Brasil. “Temos que estar atentos, colocar limites do que faz sentido ou não. Fui descobrindo ingredientes e potenciais de riscos para nossa saúde. Muitas vezes, o corpo dá sinais quando está intoxicado”, alerta.

É claro que natural por natural não quer dizer nada. A dermatologista Mariana Sens, da Sociedade Brasileira de Dermatologia em Santa Catarina, lembra que ter natural no rótulo não significa que não tem efeito colateral. “Muitas pessoas se enganam ao achar que um chá ou algo natural na pele pode trazer benefícios. Frutas ácidas, por exemplo, em contato com o sol podem queimar a pele. Tem que cuidar, principalmente para quem se aventura a fazer em casa”, afirma.

Público conectado à causa ambiental

Cosméticos produzidos artesanalmente encontram em Florianópolis um público entusiasta e um mercado mais conectado à causa ambiental. Levantamento feito pelo Slow Market Beauty apontou que, das 600 marcas de cosméticos veganos / naturais / orgânicos cadastradas em todo Brasil, 70 são da região Sul. Não há dado oficial do número de marcas catarinenses ainda, mas os lugares para venda só aumentam —principalmente nos espaços colaborativos. No Centro, Sul e Norte da llha há várias opções.

Criada em 2018 pela maquiadora Cristina Nunes, a Sathya.Co é um exemplo. Com foco em cosméticos faciais, hoje é vendida on-line, na We Plant Atelier (Campeche) e na Flow.Colab (Rio Tavares). Além, é claro, de eventos como o Nomad Mercado, feira de marcas e designers produzidos localmente e de forma independente.

“Sou formada em moda e trabalho com maquiagem há mais de dez anos. Sentia falta de produtos naturais, comecei a estudar e me dei conta dos conservantes e outros ativos ruins para a pele. Num primeiro momento comecei fazendo para mim e as amigas”, conta Cris.

Neste Carnaval, ela comemora um ano de lançamento das Shine Bars, barrinhas iluminadoras feitas com manteiga de cacau, manteiga de karité, cera de carnaúba e mica (grupo de minerais) e que são uma alternativa ao gliter, altamente poluente.

O alto custo do mercado verde ainda é uma barreira

As gigantes multinacionais já estão de olho na potência do chamado mercado verde e, por isso, embora o público e os consumidores estejam mais atentos e conscientes, o desafio das marcas menores e com propósito é enorme. “Quando entrei nesse mercado, há três anos, não tinha preocupação em relação às grandes que querem abocanhar essa fatia e fazem o greenwashing — marketing que deixa a marca com cara de natural, mas sem comunicação ética e transparente”, lamenta a fundadora da Simple Organic, Patrícia Lima.

A questão do custo de produção de cosméticos naturais é também um desafio. “Um dos principais problemas na produção ainda é o alto custo tanto da matéria-prima quanto da própria produção, que ainda não se faz em larga escala. A matéria-prima natural ou orgânica tem um custo muito elevado quando comparado aos ingredientes sintéticos comumente utilizados nas maquiagens convencionais”, acrescenta Fernanda Santa Cruz, da Organela.

O consumidor acaba pagando a conta, mas também é uma escolha. “A precificação precisa ser revista. Como pode uma base na farmácia custar apenas R$ 10?”, reflete a maquiadora Dy Belmonte. E consumir produtos naturais só porque estão na moda, no final das contas, também não é postura sustentável. “Eu mesma falo para as pessoas que têm interesse em comprar um produto da Sathya.Co, mas que contam que já tem alguns cremes em casa: ‘termine o que tem antes de sair comprando mais’”, brinca Cris Nunes.

Conheça algumas marcas catarinenses

Simple Organic

Organela

Vida Natural

Sathya.Co

Caulí Beleza Natural

Camytá

Ateliê do Neem

Onde encontrar marcas naturais em Florianópolis

– Terra Maya Cosmética Natural (Rio Tavares)
– Mercado São Jorge (Itacorubi e Centro)
– Flow.Colab (Rio Tavares)
– Caule Ecosalão (Lagoa da Conceição)
– Cotirô (várias lojas na Grande Florianópolis)
– We Plant Atelier (Campeche)
– Loja Belverde (Itacorubi)
– Ubaiá (SC-401)
– Farmácias de manipulação
– Empórios de produtos naturais

Você sabe a diferença?

A legislação brasileira ainda não tem diretriz clara sobre a concentração mínima exigida de ingredientes naturais e não faz restrições aos sintéticos.

O conceito para os cosméticos ecologicamente corretos são:

Cosmético natural: deve ter pelo menos 95% das matérias-primas de origem natural. Os 5% restantes não devem ter ingredientes como parabenos, petrolatos, mercúrio, lauril sulfato de sódio, óleo mineral e outros.

Cosmético orgânico: contém matérias-primas naturais certificadas como produção orgânica.

Cosmético vegano: quando não utiliza matérias-primas de origem animal: mel, cera de abelha, lanolina, colágeno, albumina, carmim e gelatina, entre outras. Essa categoria pode tanto ser natural como sintética.

Cosmético cruelty-free: quer dizer sem crueldade, ou seja, não testa os produtos em animais.

Para ficar atento

Microlixo: minúsculos pedaços de plástico feitos principalmente de polietileno, polipropileno e nylon e presentes em cosméticos, como cremes e sabonetes esfoliantes, pastas de dente e esmaltes. Não são biodegradáveis e vão parar nos sistemas de esgoto e no mar.

Greenwashing: apropriação de virtudes ambientalistas por grandes corporações, principalmente, por meio de marketing e comunicação não transparente. É aquela embalagem descolada, mas que na verdade não evidencia a verdade ecologicamente incorreta.

Fonte: ndmais.com.br

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