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Fabricante sabia que talco infantil tinha mineral cangerígeno, diz agência

Investigação da Reuters examinou décadas de documentos da Johnson & Johnson, processada por milhares de pessoas com câncer nos Estados Unidos.

Um relatório da Agência Reuters divulgado nos últimos dias levantou preocupações ao afirmar que a Johnson & Johnson soube durante décadas que seu talco cosmético continha pequenas quantidades de amianto, mineral que pode provocar câncer se inalado.

O texto foi feito a partir de entrevistas e da análise de documentos que a empresa teve que compartilhar com os advogados de pacientes que alegam que o talco da empresa, um dos mais famosos e consumidos do mundo, causou câncer neles. Ao todo, são 11.700 pessoas processando a empresa sob essa alegação. Em julho deste ano, um júri nos Estados Unidos ordenou que a Johnson & Johnson pagasse uma indenização de U$4,69 bilhões a 22 mulheres portadoras de câncer no ovário. Elas argumentavam que a empresa sabia sobre a presença de amianto no talco.

Para os pais e mães que usam talco nos filhos pequenos, aparentemente não há motivo de alerta. A empresa confirma em nota que seu talco é livre destas substâncias — afirmação comprovada “por milhares de testes feitos por órgãos oficiais”. Em 2009 pela FDA, departamento do governo que regula remédios e cosméticos nos Estados Unidos, testou 34 amostras de talco, incluindo as da marca agora na berlinda, e não encontrou resquícios de amianto.

O que é amianto?

Ele é um mineral finíssimo e afiado, com formato semelhante a uma agulha. Uma vez inalado, penetra pelos pulmões e se instala na parade do órgão. “Ali, ele produz uma inflamação crônica na pleura, camada que reveste os pulmões, que leva ao câncer”, explica Artur Malzyner, médico oncologista da Clinonco, em São Paulo.

Até os anos 1970, era comum que houvesse resquícios de amianto em cosméticos e talcos. Foi nessa década que as evidências ligando o mineral ao câncer começaram a ganhar corpo. Com o passar do tempo, ele foi banido dos produtos e até seu uso industrial foi proibido — os trabalhadores que inalavam a poeira eram os mais sujeitos a sofrerem os efeitos negativos do amianto.

Segundo a Reuters, desde 1950 os especialistas da Johnson & Johnson sabiam que o talco, que também é um mineral, extraído de minas na Itália e posteriormente nos Estados Unidos poderia conter resquícios de amianto. A empresa nega a afirmação em comunicado oficial e, nos processos judiciais que a agência investigou, se defendeu dizendo que alguns dos achados documentados diziam respeito ao talco de uso industrial.

“Com as informações que temos, a argumentação de que o talco causou câncer é um tanto incompleta, eu diria. Seriam precisos mais estudos, com um grande número de pessoas, para determinar a relação direta, como já se observou nos casos de exposição direta ao amianto nos trabalhadores da indústria e das minas”, comenta Malzyner.

Talco causa câncer de ovário?

Mesmo sem a presença do mineral sabidamente cancerígeno, essa é uma preocupação que vira e mexe reaparece na internet. Mas a Agência Internacional de Pesquisa Sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês, principal referência sobre o tema) diz que o talco corporal sem amianto não causa tumores em humanos.

O uso na região genital, contudo, é rotulado como possivelmente cancerígeno, classificação quando há evidências limitadas sobre o assunto. “Os estudos falam em um incremento muito pequeno, mas estamos falando de câncer, uma epidemia que não conseguimos compreender completamente de onde vem, então é algo que deveria ser estudado mais à fundo”, comenta Malzyner.

Diante da falta de estudos mais robustos, não é possível afirmar que a criança que usa talco está em risco. “Fica a critério de cada um aplicar ou não o produto, baseado nas informações que temos até agora”, opina Malzyner.

Posicionamento completo da empresa

Veja o que diz a Johnson & Johson sobre o caso.

“A matéria publicada pela Reuters nos Estados Unidos é unilateral e falsa. O talco para bebês da Johnson & Johnson é seguro e não contém amianto. Estudos com mais de 100 mil homens e mulheres mostram que o talco não causa câncer ou doenças relacionadas ao amianto. Milhares de testes independentes realizados por órgãos reguladores e laboratóriós de pesquisa de referência mundial provam que nosso talco para bebês nunca conteve amianto.

A reportagem da Reuters está incorreta em três pontos centrais:

A matéria ignora que milhares de testes realizados pela J&J, por órgãos reguladores, por laboratórios independentes e instituições acadêmicas mostraram repetidamente que nosso talco não contém amianto.

A matéria ignora que a J&J cooperou totalmente e abertamente com a agência reguladora americana (Food and Drug Administration – FDA) e outros órgãos reguladores, fornecendo aos mesmos todas as informações solicitadas ao longo de décadas. Nós também disponibilizamos as nossas minas de talco cosmético e o nosso talco processado aos órgãos reguladores para testes. Órgãos reguladores testaram ambos e sempre declararam que o nosso talco não contém amianto.

A matéria ignora que a J&J sempre usou os métodos mais avançados de testes disponíveis para confirmar que nosso talco cosmético não contém amianto. Todos os métodos disponíveis para testar o talco da J&J em relação ao amianto foram usados pela companhia, órgãos reguladores ou especialistas independentes, e todos esses métodos concluiram que nosso talco cosmético é livre de amianto.”

Fonte: https://bebe.abril.com.br

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